Páginas

Trinta anos depois, no mesmo dia 1º de de maio, oficial que participou do atentado no Rio centro tem contrato renovado pelo Exército

 No trigésimo aniversário do atentado no Riocentro, o coronel da reserva Wilson Luiz Chaves Machado, sobrevivente da explosão, tem um motivo para comemorar. A partir do dia 1º de maio, domingo, por decisão do Exército, o seu contrato de prestador de serviços para o Instituto Militar de Engenharia (IME) será prorrogado por mais 13 meses. 


 
Há 30 anos, no mesmo 1º de maio, Wilson padecia no Hospital Miguel Couto, com o abdome dilacerado pela bomba que explodira, na noite do dia anterior, no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, seu parceiro na ação terrorista tramada contra o festival de música organizado para marcar o Dia do Trabalhador.
Embora indiciado no segundo inquérito policial-militar (IPM) aberto pelo Exército, em 1999, para apurar as responsabilidades sobre a ação, Wilson nunca foi punido pelo episódio. O Superior Tribunal Militar (STM), em decisão confirmada pelo Supremo, entendeu que o oficial estava coberto pela Lei da Anistia.
No IME, tradicional escola da Praia Vermelha, Wilson é responsável pela "análise funcional dos cargos de engenheiro militar", como informa o Exército. O trabalho consiste no "estudo das atribuições, deveres e responsabilidades inerentes aos cargos".
Lotado na Subdivisão de Cursos e Graduações do IME desde 2005, ganha R$ 3,3 mil mensais para exercer a função. Com esse valor, mais o que ele ganha como coronel da reserva, sua renda mensal passa de R$ 13 mil. Em nota, o Exército afirmou que Wilson tem as qualificações necessárias ao trabalho.
O IME fica ao lado do Círculo Militar, clube onde Wilson gostava de jogar vôlei (sempre de camisa, para esconder as cicatrizes) e até hoje se reúne com amigos para tomar chope. Apesar do eventual assédio da imprensa, a vida do militar é tranquila.
No site da turma de oficiais formados com Wilson na Academia Militar das Agulhas Negras em 1972, a "Marechal Mascarenhas de Morais", consta que o militar comprou duas passagens para um cruzeiro de nove dias a Buenos Aires e Punta del Leste, em janeiro do ano que vem. Ele ocupará a cabine 9221 do navio "Costa da Fortuna" no passeio batizado pelos oficiais de "Encontro sobre as ondas".
O mesmo site, que tem quatro fotos de Wilson em solenidades anuais da turma, todas exibindo o sorriso do oficial, também revela que, na época das Agulhas Negras, ele foi um oficial mediano, concluindo a formação com média 6,230, o que lhe garantiu um discreto 78º lugar entre os 117 formandos da Infantaria.
Com essa média, ainda que não tivesse se envolvido com a ação terrorista no Riocentro, Wilson dificilmente chegaria a general. Depois da explosão, teve carreira medíocre no Exército, passando pelo Colégio Militar de Brasília e pela Diretoria de Movimentação. Sua maior virtude, em 30 anos, foi ficar de boca fechada.
Quando o atentado ocorreu, em 30 de abril de 1981, Wilson era novato no Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI I). Ele fora transferido para a unidade no ano anterior, depois que um acidente de moto, em 1979, abortou o sonho de seguir carreira como comandante do Pelotão de Motociclistas, que fazia a escolta dos presidentes em visitas ao Rio. Um dos orgulhos da unidade era formar uma pirâmide humana.
No DOI I, principal centro de torturas do regime militar no Rio, Wilson era chefe do sargento Rosário na Subseção de Operações Especiais. 

Wilson fica em silêncio ao atender ligação de repórter

O GLOBO foi nesta terça-feira ao endereço de Wilson, um condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca. Uma mulher que atendeu pelo interfone da portaria disse que ele não se encontrava, e que a cobertura do jornal sobre o caso "não coincidia". A repórter também ligou para o celular do oficial, que atendeu e, ao saber do que se tratava, ficou em silêncio e depois desligou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário